Eu acho que algo que se aproxima muito disso é o parlamentarismo com votos em partidos e lista fechada (o partido escolhe a ordem dos deputados que vão ocupar as cadeiras). Eu defendo muito esse modelo, acho que resolveria os nossos problemas de instabilidade política e obrigaria o debate público a girar em torno de propostas e não de pessoas.
Não entendo muito sobre, mas nos países que utilizam o parlamentarismo, o centrão é um problema? Porque aqui no Brasil a gente tem basicamente uns 3-4 partidos que as pautas a gente consegue identificar e todos os outros que são partidos simplesmente “neutros”, estão onde tá conveniente no momento.
Tem partido que em um estado elege gente de esquerda e em outro gente de direita, o que vai totalmente contra o conceito de partido, de unir pessoas com ideia semelhantes.
Ou nesse caso esses partidos se sentiriam pressionados a assumir uma posição?
Eu particularmente desconheço casos de parlamentarismo em que haja algo como o centrão. A verdade é que o centrão é um fenômeno bem brasileiro. Os políticos do centrão são lideranças regionais sem um projeto político em particular, são personalidades, seus eleitores não se importam com qual partido pertencem. O objetivo dessas lideranças é enviar verbas para seus currais eleitorais e favorecer os interesses econômicos daqueles que financiaram a campanha. Por isso essa crise com emendas por troca de voto. Ao meu ver o parlamentarismo com lista fechada impede isso pois ele obriga convergência do legislativo com o executivo. Se o eleitor quer o Lula como primeiro ministro ele deverá votar no PT para o parlamento. Além disso o voto do eleitor será explicitamente no partido e não em pessoas, isso diminui o poder de lideranças personalistas que agregam votos para o partido, elimina completamente o fenômeno t ririca e da poder ao partido, pois ele decidirá a lista. No Brasil essas siglas do centrão são comandadas por políticos que agregam votos, em um parlamentarismo de lista fechada os partidos deixam de ser reféns dessas figuras, apesar delas ainda terem seu peso.
Tem coisas tipo crença religiosa que eu acho impossível de separar de posições. Se a pessoa é católica por exemplo é bem provável que ela tenha algumas posições diferentes do que ela teria se fosse hindu. Mas o negoço é que pra chegar numa eleição pra presidente com chance de ganhar, já tem que ter dado muita sorte com aliança e partido, o que na maioria das vezes é limitado por opressões raciais, misóginas e xenofóbicas (e religiosas também). Só ver como os dois candidatos negros da ultima eleição são de partidos pequenos e quase não foram noticiados, e o nordestino que não para de ganhar eleição é o que fez carreira no sudeste. (Collor não é nordestino.)
Acho que ao contrário de esconder essas questões, o interessante é justamente trazer elas mais a tona. Só olhar os memes antigos da Dilma pra ver a misoginia rolando solta no como ela era retratada, ou ver os comentários até em jornais renomados sobre o “Lula cachaceiro” ou “analfabeto”. O problema é que vai custar muita coragem dos jornais e influenciadores (na época nem chamava assim) que se beneficiaram desse comportamento de olhar pra trás e pedir perdão. Sem contar que uma parte muito importante do poder executivo é servir tanto pra representação interna quanto externa, eu diria mais importante até que as funções mais formais. Seria impossível selecionar um anônimo pra fazer essa função.
Acho que as reformas muito mais interessantes seriam sobre representação e transparência no legislativo, porque é o lugar onde a maior parte do funcionamento dos 3 níveis de governo é definido, e também a menos acessível. Todo mundo tem presidente e juíz favorito e odiado, mas fica muito difícil ter opinião em mais de 500 deputados federais, muitos que desobedecem partido. Sem contar os importantíssimos deputados estaduais e vereadores que já passam batido.
Ia correr o risco de eu votar em um evangélico mas pela maior parte isso iria prejudicar os talibangélicos mais do que qualquer outro grupo.